Entrevista com autor e ilustrador Mario Vale


RHJ: Mario Vale conte um pouco da sua trajetória profissional como escritor e artista plástico? 
MarioVale: Nasci em uma família de muitos irmãos e meus pais nos educaram de uma forma bem cooperativa. A gente dividia as responsabilidades e as diversões e a solidariedade era importante pra manutenção de todos, principalmente nas horas das refeições. No mais, a minha casa era um imenso parque de diversões. Tinha marcenaria, laboratório de fotografia, orquidário e alguns bichos, como quati, bicho preguiça, tartaruga, cachorro. 

Passarinho na gaiola não tinha. Tinha até papagaio. Falando em papagaio, a gente fazia papagaios (pipas) e manivelas e eles voavam bem alto. No lugar que eu morava, a rua era cheia de amigos e a gente jogava bente altas, finca, pega ladrão e lutava espadas. Ahhh... tinha também na minha casa uma coisa muito importante: uma grande biblioteca. Meu pai e minha mãe liam muito e a gente ficava lendo, entre outras coisas, As Aventuras de Sherlock Holmes de Conan Doyle, Tesouro da Juventude e um tanto de outros livros. 


Tinha também uma grande coleção de revistas em quadrinhos e a gente lia tanto que esquecia de fazer outras coisas. Uma dia, minha mãe mandou guardar os gibis sobre o teto de casa, pra gente dar um tempo de “quadrinhos” e dedicar mais aos estudos da escola. Acontecia que nós nos trancávamos no quarto que dava pro teto e subíamos até a abertura que dava pro telhado, e eu ficava lá um bom tempo lendo Flecha Ligeira, Tom Mix, Tarzan, Príncipe Valente, Bolinha (o meu ídolo) e Luluzinha, e ainda as revistas de Walt Disney, o Pateta, Pluto, Mickey, Pato Donald e várias outras. Então, no meio dessa coisa toda, eu gostava muito de escrever e desenhar as minhas histórias e embora não fosse um bom aluno na escola, eu gostava muito de literatura. 

O meu pai, percebendo este meu lado artístico, me incentivava bastante, me mostrando um tanto de coisas, como desenhos que se formavam nas paredes, nas pedras das casas, etc. Um dia, meu pai – que era jornalista, me levou no jornal e abriu espaço para eu publicar meus desenhos. Quando tive meus filhos e eles eram pequenos, eu ficava contando pra histórias eles dormirem. Quando eu não tinha mais histórias pra cotar, eu ficava inventando outras. Algumas eu transformei em livros e foi assim que comecei a minha carreira de escritor.

RHJ: Em Passarolindo, um menino descalço se torna amigo de um passarinho que vive num sapato. Curiosamente, após ajudar o amigo, o menino volta a colocar o sapato no mesmo lugar e este continua a ser o ninho do passarinho. Além de Passarolindo há, na sua obra, outros títulos, como Bzzz Bzzz, que abordam questões ecológicas. Como você pensa a amizade do homem com os outros seres vivos no mudo contemporâneo? 

MV: O crescimento populacional gerou um tanto de problemas para os habitantes da Terra. Cada ser humano precisa de uma grande quantidade de água e também de alimentos para sobreviver. Cada habitante gera uma quantidade grande de lixo. As cidades precisam gerar uma grande produção de bens para o consumo da população. Então novas fábricas são construídas e tem que haver grande produção de alimentos para todos. 

Quanto mais gente nasce, mais as cidades têm que aumentar a produção de alimentos, roupas, sapatos, automóveis e máquinas de todos os tipos para atender ás necessidades da população. Então, quanto mais progresso, mais indústrias e consequentemente, mais lixo e mais poluição. Os homens conseguem dar um jeito de continuar vivendo o meio dessa confusão toda, mas os animais acabam sendo vítimas deste processo “muito louco” de sobrevivência. 

Por isso, a minha preocupação com os animais do planeta. Assim, passo grande parte do meu tempo tentando ajudar as pessoas a pensarem nos problemas de sobrevivência dos animais a nossa volta: os peixes, os pássaros, gatos e cães, a girafa, o leão, o veado, a vaca, a galinha e o macaco e etc., dependem da nossa ajuda para sobreviver. Temos então que ser amigos deles.

RHJ: Como a literatura pode atuar em relação a esta amizade?

MV: Através da literatura, podemos contar histórias que nos aproximam da realidade do reino animal. Através das histórias, mostramos como são bonitos os bichos e como eles são importantes para os, como são “inteligentes”, espertos, solidários, amigos e como conseguem sobreviver em harmonia neste mundo de tantas espécies. Finalizando, você sabia que o melhor amigo do homem é o animal?

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