Entrevista com a autora Ninfa Parreiras

Entrevistamos a autora de Com a Maré e o Sonho e Confusão de Línguas na Literatura: o que o adulto escreve a criança lê, Ninfa Parreiras. Saiba um pouco sobre a vida e carreira da autora.


RHJ: Ninfa, conte um pouco da sua trajetória profissional como escritora e psicanalista?

Ninfa Parreiras: Olá pessoal, sou a Ninfa Parreiras, autora de livros para crianças e adolescentes. Também escrevo textos para professores e educadores e gosto de dar aulas e de encontrar com os leitores. Como psicanalista, atendo, no meu consultório, crianças e adultos.

É um momento para exercer a escuta, ouvir as questões que cada um me traz (os medos, as dúvidas, as alegrias). Na minha prática, percebo que as profissões que exerço se encontram na palavra: escrita (literatura) e falada (psicanálise). No fundo, no fundo, sou uma pessoa apaixonada pela palavra, pelos relatos (escritos e falados).

RHJ: A menina de Com a maré e o sonho é cheia de perguntas e procura respostas pela investigação, por exemplo, do coco. Nem sempre, no entanto, ela alcança as respostas. Na vida, crianças, jovens e adultos, sempre lidam com essas situações, apresentada no livro. Como você pensa a importância da literatura neste contexto? 

NP: A literatura traz a possibilidade de abrir as questões para os leitores pensarem. Pela literatura, mergulhamos em mundos diferentes do nosso. Ao lermos histórias de outros povos, experimentamos situações diversas das que vivemos; sentimos outras emoções; criamos outros caminhos; inventamos sonhos. 

O mais legal é que cada leitor tem um entendimento pessoal e próprio do que leu. A literatura abre caminhos de leitura, de interpretação, de associação com a nossa vida. Por isso, podemos dizer que ela é bastante democrática. Cada um cabe de um jeito pessoal dentro de uma história inventada, de um poema. Ou seja, a literatura permite o exercício da singularidade, do ser cidadão.

RHJ: Em seu mestrado você desenvolveu a pesquisa Psicanálise do Brinquedo na Literatura para crianças. Normalmente, quando ouvimos a palavra “brinquedo” associamos a uma série de objetos que tradicionalmente são utilizados pelas crianças em suas brincadeiras, mas se existem objetos fabricados para serem brinquedos, existem também outros que se tornam, quando apropriados pelas crianças. Qual a importância de um brinquedo? Poderíamos considerar o coco em Com a Maré e o Sonho como um brinquedo?

NP: O brinquedo é, por excelência, o objeto primordial da infância. É o instrumento de comunicação, de diálogo da criança consigo própria e com o mundo. Ao brincar, uma criança interage com um mundo imaginário, de coisas inventadas; ela cria situações, transforma o que quiser em uma bola, um carrinho. Já percebeu como, facilmente, uma criança inventa um brinquedo ou uma brincadeira? Ao fazer essas transformações, ela percebe que os sentimentos, as pessoas, as coisas também podem mudar.

O coco pode ser considerado um brinquedo. A personagem o transforma em bola, globo terrestre, móvel. Ao manusear o coco, ela nota as mudanças que acontecem na casca, no ruído de dentro. O coco passa a habitar o seu quarto, a morar nas suas fantasias. E cada leitor vai tomar esse coco como algo particular.

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